terça-feira, 10 de março de 2015

Vida acadêmica

       Hoje, resolvemos relatar sobre as avaliações ao qual fomos submetidos durante nossa vida acadêmica. Assim, poderemos conhecer um pouco mais sobre a realidade de algumas escolas brasileiras e sobre nós mesmos.

Relato de vida acadêmica sobre os processos de avaliação


A primeira memória que me vem a cabeça quando penso em meus primeiros anos escolares são os exercícios de cobrir letras e colorir figuras. Passávamos horas nessas atividades lúdicas, que acreditava eu, mesmo criança, que elas de nada me serviam. Entretanto, naquele tempo eu me divertia com essas atividades e me sentia orgulhoso quando tudo saía bonito e eu era elogiado. Todos os alunos queriam fazer os desenhos mais bonitos e coloridos, para assim, chamar a atenção da “tia”, nossa doce professora do então jardim de infância.
Avançando um pouco no tempo, posso lembrar vagamente do meu processo de alfabetização. A “tia” ia ensinando as letras e como formar as sílabas, bem como, estas se tornariam palavras e frases. Ainda consigo se lembrar do momento extado em li meu primeiro texto, sobre uma foca e sua bola. Um mundo novo surgia diante de meus olhos e foi nesse momento que as provas entraram em minha vida.  Eu tinha de aprender a ler pequenos textos para poder fazer chamada oral, aonde, erámos convocados ao birô da educadora, que nos pedia para ler duas ou três frases alternadas. Nessa etapa também fui apresentado à tabuada, que deveria ser memorizada para as chamadas orais.  
Aprendemos assim a ler e a escrever, a contar frutas e doces, somando, multiplicando, dividindo e subtraindo. Mas, as provas nunca eram tão doces. Pois, estas já apresentavam cerca de oito a dez questões técnicas e específicas. “Qual o dia da independência?”, “Qual o dia do índio?”, eram exemplos de perguntas que me eram feitas nas provas de História. Hoje me parece simples lembrar essas datas, mas, na minha infância eu não conseguia compreender que significado tinha essa independência brasileira, imagine lembrar o porquê esse dia era tão comemorado em minha cidade. Eu nunca havia visto um índio, então, porque teríamos um dia só para ele? Não importava aprender! Eu só precisava lembrar-se das datas.
Nessa época as “notas vermelhas” não me importunavam. Era fácil conseguir uma nota dez. Tudo que se fazia rendia tal conceito. Ganhava vários pontos e o tão aclamado “Visto!” do mestre em meu caderno de anotações era como um passaporte para a promoção de série. Mas se tem uma coisa que me marcou academicamente nesse momento foi a necessidade de ter que parar por algumas horas e ter que rever conteúdos para poder fazer uma prova. Ou melhor, se preparar para a tão temida semana de provas, aonde toda a escola para e se direciona para tal atividade.
Chegando ao ensino fundamental II passei a ter um professor para cada disciplina, o que no meu tempo contabilizou dez deles. Lembro-me que senti um choque de realidades muito grande, pois, a tia, pessoa amável e confidente, deu lugar ao professor, ser sério, inalcançável e intocável. Até o recreio mudou de nome e se tornou “intervalo”. As aulas, bem mais específicas, passaram a se tornar cada vez mais chatas, todavia, eu precisava aprender de tudo para conseguir encerrar o ano letivo aprovado.
Não pensem que estou saindo do assunto da avaliação escolar quando cito o recreio e a postura séria do professor. Muito pelo contrário! Tudo tinha relação com as provas, pois, estávamos em um ambiente mais sério, aonde todos queria ser adultos. Consequentemente, a quantidade de trabalhos, provas, feiras de ciências e apresentações de trabalhos se multiplicou. E somente aqueles que eram “bons alunos” conseguiam sair da semana de provas ilesos. Era assim que os professores conseguiam nos classificar. E foi assim que passamos a nos identificar e disputar, porque ninguém queria ser o aluno ruim da sala.
Chegando ao ensino médio tudo foi intensificado com a aparição de novas disciplinas e o aumento do desinteresse pela escola. Essa coisa de escola já estava cansando, mas, o pior ainda estava por vir. Já me era cobrado uma nova postura, que era a de estudar para ser aprovado no PSS (Processo Seletivo Seriado) ou no ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). Eu ainda tinha de estudar para as provas escolares, que eram em sua maioria bem difíceis, todavia, os conteúdos e as provas objetivavam me preparar para a aprovação no vestibular. Principalmente quando fiz cursinho pré-vestibular, aonde você é forçado a só pensar nisso.
Nessa época conheci diferentes tipos de professores e suas avaliações. Na escola sempre existia aquele docente que gostava de ser o pesadelo dos discentes, com provas difíceis, pois, ou metade da turma ia para a sua final ou ele não se sentia realizado. Também existia aquele mestre que sempre usava a mesma prova, ano após ano, ou então aquele que inventava uma na hora, de cabeça, para mostrar o quanto era inteligente. Para nós, alunos, a única coisa que restava era se adaptar as provas e ao tipo de coisa que cada professor gostava de perguntar. Acredito que foi o período de minha vida que menos aprendi cosias novas e adquiri o hábito de só estudar para um exame na véspera, pois, só o fazia por obrigação.
Depois de muito estudar consegui uma vaga na UFPB, no curso de licenciatura em ciência da computação, que apresenta baixíssima concorrência para sua admissão. Novamente, senti um choque de cobranças muito grande, pois, ao mesmo tempo em que não pediam nada, me exigiam muita responsabilidade. Os estilos de prova se modificaram, apareceram mini testes, avaliações surpresas, a semana de prova deixou de existir oficialmente, entretanto, no final do período é de se correr louco para não ser atingido pelas reprovações. Foi aqui que comecei a perceber o quão os exames nos classificavam e excluíam, porque eu vi que era verdade o que me diziam: “entrar na universidade é fácil, difícil é sair.”.  Chegando a conclusão de que ou eu estudava, ou dormia bem ou fazia amigos.
O engraçado que acho nisso tudo é que, embora estejamos aprendendo conhecimentos que iremos utilizar no mercado de trabalho, nosso foco principal é a promoção. Nunca fui para uma final em minha vida, mas, sei o quão é assustador ter que se preparar para uma prova contendo assuntos de uma disciplina inteira. Oras, se você não aprendeu durante um período, aos poucos, como irá aprender em alguns dias? Sem contar a quantidade de leitura e produção de textos, que nunca me foi solicitado em minha vida acadêmica, entretanto, teve de se tornar algo normal e corriqueiro.
Se antes eu havia conhecido alguns tipos de professores, hoje consigo classificar através de muitos outros estilos. Na universidade conheci aquele professor que vai para a aula apenas para ler slides, mesmo que estes já tenham sido preparados a mais de dez anos por outro professor, mas, tem prazer em fazer a chamada e reprovar seus alunos por falta. Esta, muitas vezes utilizadas para forçar os alunos a comparecer e a permanecer nas aulas. E nesse contexto, já vi muita gente dormindo em sala, saindo durante uma explicação para ir passear ou lavar o rosto e tentar despertar.
Já tive professores que começam o período alegando que não fazem provas, pois, acham uma prática ruim. Entretanto, fazem mini testes, de poucos minutos, todas as aulas. Logo, se você chegar atrasado, por qualquer que seja o motivo, terá sua nota prejudicada. Sem contar o desespero que é ter que se preparar para uma prova, pois, de mini esses testes não tem nada. Outra forma avaliativa bastante utilizada são os seminários, entretanto, percebo que muitas vezes os professores se perdem em como transformar a atividade em nota, pois, previamente não são definidos os critérios avaliativos.
É obvio que não posso generalizar e dizer que todos os professores são falhos, pois, também já vi excelentes professores utilizando, como por exemplo, mini testes de uma forma avaliativa e eficiente. Também é fácil perceber que alguns deles tentam inovar e modificar o sistema de exames e notas, entretanto, poucos o conseguem. E o mais entristecedor disso tudo é que diante da enorme quantidade de mestre que já tive em minha vida acadêmica, só alguns poucos tentam se diferenciar e estão utilizando suas práticas a favor da aprendizagem.
Hoje eu estou estudando sobre como pode ser feita a avaliação da aprendizagem e já consigo enxergar que sempre fui avaliado, mesmo quando apenas cobria letras e desenhava. Tudo foi elaborado para me classificar, e por sorte e empenho, me permitir participar de uma universidade pública, e excluir aqueles que não tiveram a mesma sorte. Minha vida estudantil ainda não acabou e tenho muito a aprender, mas, aos poucos eu sei que vou adquirindo experiências e já consigo enxergar que tipo de profissional eu quero ser e quais práticas eu desejo abominar.



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